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As vacas sagradas da política portuguesa

Ao ver esta polémica relacionada com a posição do BE e do PCP sobre a crise na Ucrânia percebemos como estes dois partidos são uma espécie de vaca sagrada para muita gente. O PCP pelo seu passado antifascista e o BE pela sua luta por questões, digamos, morais – como a eutanásia, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a legalização de drogas leves, etc. – merecem a complacência de muito boa gente.

Mas o que se passou nos últimos tempos revela bem o que, no fundo, ambos os partidos defendem, tendo ficado claro que o PCP é um partido que convive bem em democracia, quando está inserido nela, mas que lhe estala o verniz sempre que se colocam questões internacionais, onde não se consegue descolar do seu passado ligado à antiga União Soviética. É por isso que os comunistas não condenam o ataque bárbaro da Rússia à Ucrânia, como se contorcem quando se fala da Coreia do Norte, China ou Venezuela. Aí revelam o que verdadeiramente lhes vai na alma e percebe-se o que fariam se algum dia tivessem a possibilidade de mandar no país. Depois do desastre eleitoral, o assalto russo à Ucrânia foi mais uma grande machadada no PCP.

Quanto ao BE, também a crise ucraniana não surgiu na melhor altura. O i, na edição de terça-feira, dava conta da abstenção do partido na votação do Comissão Europeia sobre o pacote de apoio Macrofinanceiro de Emergência à Ucrânia – à noite, debates acesos na CNN contribuíram para dar mais gás à polémica. Bem disseram publicamente os bloquistas que não concordavam com um apoio condicionado, alegando que era uma espécie de pacote com a chancela da troika. Até pode ser verdade, mas entre uma ajuda que teria de ser paga e coisa nenhuma, parece-me óbvia a escolha…

E também não é novidade para ninguém que os bloquistas defendem a “saída de Portugal da NATO e defesa do desarmamento negociado e com uma base multilateral, rejeitando inequivocamente todos os cenários de aproximação à formação de um exército europeu”. Haverá dúvidas sobre o que pensam estes dois partidos?