A história europeia do Benfica é longa e fascinante, desde o momento em que conquistou a Taça Latina, em 1950, às vitórias na Taça dos Campeões Europeus, com duas vitórias e cinco finais perdidas às quais se juntam mais quatro finais perdidas, uma na Taça Latina, outra na velha Taça UEFA, mais duas na nova Liga Europa. Por tudo isto, não merecia entrar nestes oitavos-de-final da Liga dos Campeões com aquela que é, provavelmente, a pior de todas as equipas encarnadas a atingir esta fase de qualquer competição. As fragilidades do conjunto que Nelson Veríssimo dirige (?) são tão visivelmente chocantes que, esta noite, na receção ao Ajax, para além dos gritos de incentivo que o público, ainda assim, não lhe negará, ouvir-se-á uma prece como ruído de fundo: “Senhor! Tende piedade de nós!”
Até hoje, o confrontos entre Benfica e Ajax têm sido equilibrados – 1969, Ajax, 1 – Benfica, 3; Benfica, 1 – Ajax, 3; Ajax, 3 – Benfica, 0 (após prolongamento no desempate em Paris); 1972 – Ajax, 1 – Benfica, 0; Benfica, 0 – Ajax, 0; 2018 – Ajax, 1 – Benfica, 0, Benfica, 1 – Ajax, 1. Mas, neste momento, a diferença de qualidade é tanta que ninguém ficaria admirado se os holandeses viesse à Luz repetir o enxovalho que aplicaram ao Sporting, em Alvalade, para a fase de grupos – 5-1.
Nada, mas nada, pode fazer crer que o conjunto ao qual Nelson Veríssimo, que não conseguiu, em dois meses, trazer algo de novo, pelo contrário, faz arrastar penosamente pelos campos deste país como uma alma penada, sem ideias, sem estratégia, sem vontade nem coragem, possa encarar o campeão holandês de peito aberto, olhos nos olhos, como no tempo da grande gesta de jogadores que sabiam o peso de usar no peito, sobre o coração, o emblema da águia que se apresta a voar. Os últimos dois jogos, frente a Santa Clara e Boavista, foram uma amostra convincente da filosofia do jovem treinador de Vila Franca de Xira, totalmente incapaz de lidar com as vantagens no marcador que adregou, encolhendo-se de imediato num medo-pânico de as perder. Se no jogo com os açorianos conseguiu aguentar a vitória e os três pontos, no Bessa tal pusilanimidade teve custos, se é que ainda há no Benfica alguma coisa a ganhar quando a ideia que a equipa transmite para o exterior é que está mais longe do Sporting que o precede (seis pontos) do que o Braga que o persegue (sete pontos).
A miséria! Talvez Rui Costa não tivesse grandes alternativas a partir do momento em que ficou decidido que Jorge Jesus já não tinha condições para ser treinador do Benfica. Talvez não lhe restasse solução mais prática do que jogar mão a um funcionário dedicado mas que já provara, numa ocasião anterior, que não tem nem qualidade nem força para estar ao leme de um navio de tamanho calado. Se o Benfica com Jesus era uma teia de confusões e de equívocos, com Veríssimo tombou para um nível miserável, indigno da enorme história de um clube ímpar. Bem pode ter dado o seu toque pessoal ao pôr termo à tática defensiva dos três centrais, mas isso não impede que sofra golos de todas as maneiras e feitios e, hoje, terá pela frente gente como Tadic, Haller ou Antony (como corre esse moço!), flechas de um ataque que soma 70 golos no campeonato (à 23ª jornada) e apresenta a enormidade de apenas 5 (!!!) golos sofridos. Tudo muito demais para o cacilheiro à deriva que Veríssimo tem vindo muito lentamente a montar com peças que não suportam a mais minúscula das ondas, quanto mais uma vaga alterosa.
Depois de ter perdido, natural e indiscutivelmente, o campeonato, arruinado nas Antas com o FC Porto, e a Taça da Liga para o Sporting, o Benfica teve a oportunidade única de reduzir a distância para os leões a três pontos. Mais uma vez falhou. E, inversamente, ficou com uma desvantagem que, vamos lá ser sérios, é impossível de ultrapassar, tanta é a diferença de qualidade que separa o jogo dos dois rivais da Segunda Circular. Sabemos há muito tempo que a Liga dos Campeões não é feita para clubes portugueses a menos que uma rajada de vento da sorte os bafeje por acaso (o Sporting, campeão nacional, já se sujeitou a duas goleadas de cinco em casa – Ajax, 1-5 e City, 0-5 – mais um 2-4 em Amesterdão). Depois dos nove golos sofridos pelo Benfica em dois jogos com o Bayern, é bom que se pergunte o que é que esta gente ainda anda por aqui a fazer? Servir de bombos de festa? Pois… E é fácil de adivinhar que a festa continuará hoje, na Luz. A menos que o Senhor tenha piedade deles.