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Colecionador de momentos

Esta semana num jantar de amigos foi-me pedida uma fotografia antiga, de um almoço que tínhamos feito há uns anos no dia 1 de janeiro, depois de uma passagem de ano bem passada. Arrancámos todos de Lisboa, mesmo depois de nos termos deitado tarde na noite anterior e fomos fazer um almoço tardio à Comporta, onde passámos a tarde a conversar e a rir tendo sido registado o momento de grupo no fim. O bom dos telemóveis hoje em dia é que registam e guardam esses momentos antigos, sem termos que andar com uma máquina fotográfica atrás, como fazíamos antigamente, nem sermos obrigados a ir revelar as fotografias ao fotógrafo. É tudo muito instantâneo e natural. O algoritmo e a “inteligência” dos telemóveis está tão desenvolvido que é o próprio a relembrar-nos de certos momentos que vivemos naquela data, nos anos anteriores, criando muitas vezes em nós um misto de saudade e nostalgia.
 
Essa breve busca que fiz no meu, andando para trás no tempo à procura da dita fotografia desse momento, fez-me rever muitos outros e acabámos por passar o jantar a falar dessas memórias passadas, do quanto já vivemos juntos e fomos felizes. Eu costumo dizer que a minha geração cresceu a ouvir histórias de embalar, em que os bons venciam sempre os maus e viviam felizes para sempre. Mas com o decorrer da vida vamos percebendo que esta está longe de ser perfeita, embora seja construída em cima de momentos, esses sim algumas das vezes perfeitos. Acho que é essa contabilização que temos de fazer quando olhamos para trás. Quantos momentos perfeitos já passámos, como demos valor e usufruímos desses mesmos e o que fazemos ao dia de hoje para construir novos. Se os telemóveis nos dão esses registos também nos tornam muitas vezes dependentes de mostrar o que fazemos nas redes sociais, de nos focarmos excessivamente no futuro ao invés de viver o presente e na ânsia de o fazer não são raras as vezes que desperdiçamos o que temos, para criar uma sensação de ilusão a quem nos vê do outro lado.
 
É por isso que eu quando me analiso gosto de me catalogar como um colecionador de momentos perfeitos. Em família, com a namorada, os amigos ou naquela viagem mágica. A vida é toda ela feita dessas pequenas partes como se de um puzzle se tratasse em que há peças mais bonitas e importantes que outras e em que algumas só lá estão mesmo para que o quadro fique completo mas na realidade nos dizem muito pouco. Essas partículas da nossa história, que recordamos de uma forma tão especial, devem servir de inspiração para criarmos novas, independentemente da idade ou da fase que estamos a passar. Porque há sempre espaço para nos sentirmos bem num determinado espaço e para sermos felizes com as pessoas que nos preenchem e nos fazem bem.
 
Esse deve ser a nossa verdadeira motivação. O dinheiro, os bens que adquirimos ou as oportunidades que temos devem ser apenas um caminho para colecionar bons momentos e não um objetivo de vida final. Porque no fim do dia é isso que vale a pena, é apenas e só isso que conta, tudo o resto é espuma…