Anuncia-se uma semana de escalada de tensão na fronteira entre Rússia e Ucrânia, com avisos de uma guerra global no horizonte. Entre acusações de “histeria” a Washington e apelos à saída da Ucrânia, o cenário de recuperação e regresso à normalidade, que começou há dois anos com a esperança de que iria ficar tudo bem, volta a ser ameaçado numa frente em que as consequências se mostram ainda mais imprevisíveis que as de um vírus.
O vírus não tinha vontades, não buscava poder, não fazia jogos de sombras, por muito que tantas vezes tenha sido antropoformizado, tanto nos danos que causou como nas lições que deixou. Portugal neste conflito, ganhe a forma que vier a ganhar, toma parte como membro da NATO, com as repercurssões mais apontadas no imediato a serem as que resultam da nossa dependência energética, já a agudizar numa situação de seca. Este clima de ansiedade vem sobrepor-se a dois anos em que se viveu já assim e não parece que vá mudar. No que controlamos, importa sair de uma crise política cujos resultados eleitorais, pese condições para um Governo estável, parecem ter eternizado uma discussão político-partidária com pouca atenção dada ao país que vai muito além a cacofonia que se instalou: as desiguldades na educação e a falta de professores com impacto na escola que se está a dar às crianças prejudicadas pela pandemia; os problema de saúde mental e o tanto que há que fazer para quebrar estigmas e apoiar no dia a dia pessoas em risco.
O caso do jovem que planeava sozinho um atentado num quarto dos Olivais, denunciado por alguém com quem conversou um fórum online, leva a questionar se sentinelas anónimas que funcionaram neste caso extremo num site de que a maioria provavelmente nunca ouviu falar funcionam no nosso dia a dia: nas escolas perante tantas situações de bullying que continuam a ser conhecidas, nas instituições, nos locais de trabalho. É na comunidade que se encontram muitas vezes soluções, entreajuda, ideias e isso temos por garantido.