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Mónaco. Uma esfrega de humildade mesmo em cima da barriga do príncipe

Não aparece, é verdade, aliás ninguém dá por ela e serão poucos o que a conhecem, mas o facto, indesmentível e intocável, é que no Mónaco, esse principado romântico entornado sobre o azul-ferrete do Mediterrâneo, não limita o seu futebol à AS Mónaco, equipa que disputa o campeonato francês e irá jogar brevemente contra o Braga na Liga Europa – mais propriamente na quinta-feira, 10 de Março –, mas conta também com uma selecção nacional, representativa da Fédération Monegasque de Football, que por não ser filiada nem na FIFA nem na UEFA está arredada das grandes competições internacionais.

Quanto ao Mónaco (AS), contornou essas proibições ao tornar-se membro da Federação Francesa de Futebol e, assim sendo, com direito a disputar o campeonato de França, no qual se tornou, aliás, um conjunto digno de respeito, embora suscitando um antipatia geral por parte dos seus adversários já que, tendo a sua sede no principado, foge ao sistema de impostos determinado pelo governo do Hexágono.

2001 foi o ano em que, pela primeira vez, a selecção do Mónaco se revelou publicamente como representante, orgulhosa, do seu principado. Demoraria, no entanto, a entrar em campo. Nada menos do que 14 anos. Daí até hoje, participou em 27 partidas, ganhando oito, empatando seis e perdendo treze. Nenhuma potência, como está bem de ver, mesmo que os adversários que lhe surgiram pela frente não fossem, propriamente, ferozes: Provence, Occitania, Kosovo, Gibraltar, Vaticano…

Sim, sim: Vaticano. Outro pequenino país que tem uma selecção sob a égide da Vatican Amateur Sports Organization, chamada Selezione di Calcio della Città del Vaticano. E não surge aqui, nestas linhas, por mero acaso, caída do céu aos trambolhões. É que foi precisamente contra a selecção do Vaticano que a equipa nacional do Mónaco fez a sua estreia internacional, no dia 10 de Maio de 2014, em Roma, num jogo rodeado de pompa e circunstância, frente à selecção abençoada por Sua Santidade o Papa Francisco, também ele um ferrenho adepto de futebol, não tivesse nascido na Argentina.

Desastre Se o jogo inaugural dos monegascos foi selado com uma saborosa vitória sobre os rapazes da Santa Sé – que até chegaram a ter um Papa guarda-redes, o já desaparecido polaco Karol Józef Wojtyla, para o mundo em geral João Paulo II – por um resultado minimamente confortável de 2-0, a lista de derrotas do Mónaco está pejada de desastres capazes de fazer corar os não especialmente púdicos herdeiros do príncipe Rainier III, marido famoso de Grace Kelly. O próprio Alberto II, chefe da Casa dos Grimaldi, Sua Alteza Sereníssima, já fez questão de vestir a camisola do seu país, ainda que exibindo uma pródiga barriguinha.

Logo após a histórica vitória frente ao Vaticano, o Mónaco recebeu uma lição de humildade ao encaixar nada menos do que um 0-10 frente ao Ellan Vanin, a equipa representativa da Ilha de Man. No fundo, uma derrota razoável se a compararmos com a sofrida face à selecção de Sápmi (que reúne membros do povo Sámi, natural do norte da Rússia, da Finlândia e da Noruega) – um cabaz à moda antiga de 1-21, em Novembro de 2006, a contar para o VIVA World Cup, o campeonato do mundo de selecções regionais não filiadas na FIFA. O momento em que os príncipes do Mónaco levaram uma esfrega de humildade…