Quando sou convidado por escolas, associações cívicas ou outras entidades da sociedade civil para debater, na minha qualidade de Eurodeputado, os desafios e as realidades da União Europeia, os seus pontos fortes e fragilidades e as ameaças e oportunidades com que se confronta, começo quase sempre por lembrar duas conquistas, que por serem dadas muitas vezes como adquiridas, não são devidamente valorizadas – a paz e a liberdade.
Depois de duas guerras mundiais devastadoras e da anexação da liberdade que os regimes nazis e fascistas impuseram, aos países que constituíram o núcleo central da parceria e àqueles que a ela se foram juntando, não mais voltou a guerra, nem a liberdade de expressão foi cerceada para além dos limites democraticamente previstos nos Tratados e nos quadros constitucionais.
A paz e a liberdade só por si justificam a existência da União Europeia e o enorme privilégio que é ter um sentimento de pertença a uma comunidade solidária e humanista de progresso e respeito pelo Estado de Direito. Não pretendo com estas considerações escamotear o muito que há a fazer para melhorar a União em todas as suas dimensões, reforçar a sua relevância global, precaver distorções na aplicação dos seus princípios, combater as desigualdades e pugnar por mais coesão e convergência.
Normalmente depois de valorizar a paz e a liberdade e a importância de sentir a UE com todo o caleidoscópio possível de sentimentos de adesão ou rejeição, mas nunca de lhe ser indiferente, os debates espraiam-se em função das audiências, para as muitas agendas, políticas, medidas, ações e posições da UE e da sua interação com as pessoas, as comunidades e os territórios. A anexação territorial e a tentativa de anexação política e ideológica da Ucrânia pela Rússia foram apenas uma sirene mais aguda das muitas que nos têm alertado nos últimos tempos para a necessidade de estarmos muito alertas e unidos na defesa da paz e da liberdade na União Europeia.
A guerra junta hoje os velhos e temíveis formatos, de que os as armas nucleares e biológicas são o elemento mais marcante, com os novos e também temíveis instrumentos de destruição massiva a partir da anexação e contaminação do ciberespaço. Também a desinformação e a manipulação desafiam quotidianamente a liberdade e funcionam como instrumentos de condicionamento, com agentes poderosos usando a abertura democrática para levar ao seu hara-kiri, que já esteve próximo nalguns países da União e ainda é um risco nalguns deles.
Nestas circunstâncias excecionais não podemos ser timoratos ou cobardes e as palavras bonitas ou os movimentos de solidariedade, sendo importantes, por si só não chegam. Temos que colocar recursos financeiros e o melhor do nosso conhecimento, da nossa tecnologia e das nossas competências para reforçar a aliança de segurança e defesa de nova geração para nos protegerem dos ataques à paz e á liberdade, convencionais, terroristas, cibernéticos ou sejam eles o que forem. Somos uma União pela paz e pela liberdade. Precisamos defendê-las. Felizmente temos sabido fazê-lo nesta crise, empolgados pela heroica resistência do povo ucraniano.
Eurodeputado do PS